sábado, 7 de setembro de 2019

Nosso Pai, Nosso Rei - Avinu Malkeinu


Quem bem me conhece, sabe. Nunca fui muito ligada à religião e às coisas místicas. Sim, sempre me considerei judia, mas pela porta da tradição, da cultura, sem valorizar os aspectos religiosos, a frequência à sinagoga e tantas outras coisas que outras pessoas de minhas relações fazem.
Nos últimos tempos, tenho me dedicado intensamente a conhecer a história de minha família e, ao buscar as minhas raizes, me defrontei com a história de todo um povo.
Mesmo sabendo que os judeus foram sempre perseguidos, não tinha uma clareza dos horrores que viveram antes e durante a Primeira Guerra Mundial. Interessante, que sempre estive ciente que meus avós, paternos e maternos, vieram da Russia, em 1912 e 1930, respectivamente.
No conforto da criação de uma família  brasileira de classe média, jamais pude compreender ou sequer supor os horrores pelos quais meus familiares teriam passado. Quando pensava em antissemitismo, relacionava, imediatamente, com os horrores da Segunda Guerra Mundial, basicamente focada na figura de Hitler e do nazismo.
Pelo que tenho conseguido descobrir, conversando com meus tios,  da primeira geração nascida no Brasil, a barbárie pelo que seus pais e avós passaram não era assunto permitido para as crianças. Queriam apagar aquelas memórias tão duras, e iniciar uma vida em liberdade, sem pogroms, violência e discriminação. Talvez por isto, nossa geração não tenha podido dimensionar, verdadeiramente, tudo o que viveram.
Eu soube, desde criança, que meus bisavós maternos teriam sido brutalmente assassinados pelos então funcionários de seu pequeno estabelecimento comercial, na Bessarábia, atual Moldavia. Jamais alguém mencionou que a violência teria se dado por um contexto de antissemitismo que permitia este tipo de  barbaridade.
Hoje sei que descendo de uma linhagem de Ys (o cromossomo masculino que define a ancestralidade) que sempre foi muito dedicada à religiosidade. Meu avô, que chegou ao Brasil por volta dos 12 anos de idade, ainda seguiu a carreira religiosa. Esta particularidade foi esvanecendo nas gerações que puderam viver mais livremente e dedicarem suas vidas a outros aspectos que não estivessem ligados à necessidade de afirmar e manter suas tradições e crenças, sob o risco da destruição e da morte, que para muitos, foi uma realidade.
Se é verdade que a humanidade anda em círculos, preciso dizer que estou fazendo a minha parte. Subdimensionar a importância de ser judia, agora que sei bem pelo que meus ancestrais passaram e o porquê, já não é mais possível.
No próximo mês iniciaremos as grandes festas judaicas. O ano novo e o Dia do Perdão. Eu, que sempre fui à sinagoga apenas para encontrar  e dar um beijo em meus avós e, mais recentemente, para honrar a memória de meu pai na reza dos mortos, estou convencida de que, este ano, estarei lá por também por mim.
Nunca me orgulhei tanto de minha história. Nunca entendi com tanta clareza o quanto descendo de um povo que somente quis e quer sobreviver. Um povo que não apregoa a violência, não subestima a vida de seus descendentes e que tudo o que sempre fez, foi se defender, tentando manter-se vivo.
O video que ilustra esta postagem traz uma música que  fala em perdão e permissão para que se esteja inscrito no livro da vida no ano que está chegando. Nunca esta canção que ouvi uma vida inteira e cantei na escola, fez tanto sentido.
Antecipadamente, desejo a todos um Shaná Tová. Que estejamos todos inscritos no livro da vida, amém!

Those who know me well, know. I’ve never been very attached to religion and mystical things. Yes, I have always considered myself Jewish, but by the door of tradition, of culture, without valuing the religious aspects, the frequency to the synagogue and so many other things that other people in my relationships do.
In recent times, I have dedicated myself intensely to knowing the history of my family and, in seeking my roots, I have faced the history of an entire people.
Even knowing that the Jews were always persecuted, it did not have a clarity of the horrors they lived before and during the First World War. Interestingly, I’ve always been aware that my grandparents, both paternal and maternal, came from Russia in 1912 and 1930, respectively.
In the comfort of creating a middle-class Brazilian family, I could never understand or even assume the horrors my relatives would have experienced. When I thought of anti-Semitism, I immediately related it to the horrors of World War II, basically focused on the figure of Hitler and Nazism.
From what I’ve been able to find out, talking to my uncles, from the first generation born in Brazil, the barbarism their parents and grandparents went through was not a subject allowed for children. They wanted to erase those hard memories and start a life free, without pogroms, violence and discrimination. Perhaps because of this, our generation has not been able to truly measure all that they have lived.
I knew, as a child, that my great-grandparents had been brutally murdered by the then officials of their small business establishment n Bessarabia, current Moldavia. No one has ever mentioned that violence would have taken place in a context of anti-Semitism that allowed this kind of barbarity.
Today I know that I come from a lineage of Ys (the male chromosome that defines ancestry) that has always been very dedicated to religiosity. My grandfather, who arrived in Brazil around the age of 12, still pursued his religious career. This peculiarity was disappearing in the generations that could live more freely and dedicate their lives to other aspects that were not linked to the need to affirm and maintain their traditions and beliefs, under the risk of destruction and death, that for many, it was a reality.
The video that illustrates this posting brings a song that speaks of forgiveness and permission to be inscribed in the book of life in the coming year. This song I ever heard in my entire life and sang at school, it made so much sense.
In advance, I wish you all a Shaná Tová. May we all be inscribed in the book of life, amen!

Vitória Raskin